Estudantes entregam ao Governador carta com reivindicações

Diante de todos os protestos contra o aumento do valor das passagens de ônibus, o governador Eduardo Campos recebeu, nesta quarta-feira (25), um grupo de 27 líderes estudantis, no Palácio do Campo das Princesas, entre eles, estava Thauan Fernandes, presidente da União dos Estudantes de Pernambuco (UEP) e o deputado estadual Luciano Siqueira.


Outros líderes participaram do encontro, presidentes e diretores da União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), União Metropolitana dos Estudantes Secundaristas (UMES) e da União dos Estudantes Secundaristas de Pernambuco (UESPE), além de integrantes dos Diretórios Centrais de Estudantes da FIR, UFRPE, Unicap, Faculdade Maurício de Nassau e do campus da UPE de Goiana.

O encontro de Eduardo com as lideranças estudantis começou com a entrega de uma carta assinada por seis entidades com 15 pontos de reivindicação. Entre as propostas elencadas, além da inclusão dos estudantes no Conselho Metropolitano de Transportes Urbanos (CMTU), estava o direito à meia passagem para aqueles que utilizam o transporte intermunicipal; gratuidade para cotistas e estudantes do Prouni e o aumento nos créditos do Cartão VEM, que hoje dá direito a 70 passagens por mês.

Os estudantes deixaram o Salão das Bandeiras com a promessa de que a carta “será uma prioridade do governo”, dita por Eduardo Campos. Em 20 de março, a pauta será discutida pelo Conselho Metropolitano de Transportes Urbanos (CMTU). A promessa é de que a composição seja revista, aumentando a participação estudantil. Atualmente, o conselho é formado por 19 cadeiras.

“Na reunião de ontem entre o governador e as lideranças estudantis, vivi um momento de grandeza na política. E de elevado espírito público”, avaliou o deputado Luciano Siqueira (PCdoB), que participou das negociações. De acordo com o parlamentar, o governador reconheceu a maturidade dos líderes estudantis e comprometeu o governo com um tratamento prioritário e urgente da pauta apresentada. "O governador também sugeriu que através do meu mandato a Assembleia Legislativa possa acompanhar passo a passo o encaminhamento da pauta apresentada, mediante diálogo constante entre as entidades estudantis e o governo", afirmou.


A resistência dos estudantes



Antes e durante esse encontro, uma multidão tomava conta das ruas do Recife em uma caminhada pacífica, que teve a adesão da população, que, na Avenida Conde da Boa Vista, por meio das janelas dos prédios, jogava papeis picados e aplaudia o ato. Motoristas buzinavam e acenavam para a grande massa que se misturava aos jovens. Segundo a Polícia Militar, cerca de 1.500 mil pessoas participaram. A caminhada começou às 14h30 e durou cerca de quatro horas.

Investigações



Sobre os excessos entre a Polícia Militar e os estudantes, o governador afirmou que a orientação do Estado foi preservar o direito da realização do protesto, mas sem esquecer o direito do cidadão comum. “Houve excessos e eles devem ser apurados levando em conta a atuação das autoridades e também dos estudantes”.

Leia agora a Carta aberta das entidades estudantis que foi entregue ao governador do Estado na reunião de ontem.

Ao governador do estado de Pernambuco, Sr. Eduardo Henrique Accioly Campos.

O movimento estudantil em toda a sua trajetória é marcado pela irreverência e ousadia em seus protestos de rua. Foi assim ao enfrentarmos uma ditadura e exigir eleições diretas, pavimentando o caminho desse novo Brasil. E será sempre dessa forma na defesa dos interesses nacionais. A mobilidade urbana, a acessibilidade, a qualidade do transporte e a gestão das empresas que controlam esse serviço público são constantes discussões que unificam a luta dos estudantes em todos os estados brasileiros. Seja na década de 1960 em manifestações contra o aumento da passagem nos bondes do Rio de Janeiro ou no início da primeira década desse novo século, com a revolta do “Buzão em Salvador” e os mega protestos em Santa Catarina, ou, mais recentemente, com passeatas no Piauí e em Pernambuco.

Inclusive, foi com a mobilização estudantil que veio uma importante conquista, com a garantia da meia passagem estudantil na região metropolitana. Mas, para nós, não bastam vitórias pela metade. É urgente a necessidade de uma discussão um pouco mais ampla para repensarmos o transporte público na região metropolitana do Recife. Atualmente, encontramos vias engarrafadas, pontos e terminais de ônibus sem estrutura física e logística para suportar uma demanda crescente, além de muitos veículos não possuírem acessibilidade a idosos, crianças e portares de deficiência. A equação é inversamente proporcional, já que são recorrentes os aumentos das tarifas, problema crônico para o bolso do estudante, ao mesmo tempo em que não se nota uma prioridade de investimento no setor, com qualidade e infraestrutura.

O Estado precisa acompanhar com mais seriedade a responsabilidade da Grande Recife Consórcio de Transportes, empresa que detém a concessão pública de exploração do setor de linhas de ônibus na região metropolitana. Em um setor sensível e estratégico para o desenvolvimento de nossa região, o Estado não pode apenas visar o lucro advindo dessas empresas e deve, junto à sociedade, reestruturar a formatação atual do conselho do Consórcio para que tenha mais representatividade e sirva à população e não a uma minoria com os dois olhos em cifras.

Surpreendidos com a possibilidade de um aumento de 17,20% no preços das passagens, sem haver nenhum tipo de discussão, os estudantes mais uma vez usaram da criatividade. Rapidamente, um grande movimento virtual se iniciou pela Internet e se materializou em grandes passeatas de rua. O que se viu entretanto foi uma incompreensível intolerância do poder público para o debate e para lidar com a democracia. Em um surto autoritário, o que nos fez relembrar tempos sombrios que queremos esquecer, a tropa de choque foi acionada nos dias 20 e 23 de janeiro para reprimir as passeatas. Vimos novamente bombas de gás no campus da Universidade Federal de Pernambuco. A Polícia Militar usou de força desproporcional com balas de borracha e spray de pimenta contra jovens que marchavam pacificamente e empunhavam uma única arma: suas vozes.

Esperamos, como representantes dos estudantes, retratação pública do governo do estado, posicionamento já publicado em todos os jornais por meio de nota aberta de entidades estudantis. O confronto que nos interessa é o que continuaremos a travar nas ruas é no campo das ideias, formar grupos de discussões, conselhos e promover encontros entre todas as partes para podermos discutir o problema do transporte público em nosso Estado.
Diante de tudo apresentado, reivindicamos:

01. A revogação imediata do aumento da tarifa implementado desde o dia 22 de janeiro;
02. Retratação pública para com os estudantes, fruto do comportamento da Policia Militar;
03. Instauração da Sindicância para apurar atitudes irregulares da Policia Militar;
04. Imediata retirada de qualquer processo administrativo, civil ou criminal contra os estudantes que participaram das passeatas;
05. Passe Livre Estudantil;
06. Meia Passagem Ilimitada – Fim do limite de meia passagem dos estudantes;
07. Passe Livre Metropolitano para “Prounistas” e Cotistas;
08. Meia Passagem Intermunicipal Estudantil;
09. Aumento do Número de Integrações na Região Metropolitana;
10. Criação da Integração eletrônica;
11. Participação Ativa do Governo de Pernambuco na Ampliação e Qualificação do Metro, Atingindo toda a Região Metropolitana;
12. Reformular o Conselho de Transporte, Refazer a Proporcionalidade das “Cadeiras”, constituindo um conselho Mais democrático e Participativo;
13. Constituição de um controle de Qualidade dos Ônibus, instituindo patamares mínimos, como: Refrigeração, Intervalos máximos de 10 minutos entre ônibus, etc;
14. Ampliação Progressiva da Frota;
15. Ampliação das Ciclo Vias;

Recife, 25 de janeiro de 2012

Fonte: Folha de Pernambuco e mídias locais

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